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Textos, artigos e outros conteúdos esportivos desenvolvidos pela equipe de Pesquisa & Desenvolvimento do Insper Sports Business, e validados por membros do conselho da entidade. Os temas giram em torno de gestão esportiva e aspectos financeiros. Para isso, os membros passam por capacitações de professores ou profissionais da área.

Da irresponsabilidade financeira ao rebaixamento: o caminho comum entre grandes clubes brasileiros

26/3/2021

 
  Escrito por: Luiz Guilherme Santos Nedochetko.
Participação: Vinicius Mota Basques
 
          No Brasil, tornou-se comum ver times considerados grandes serem rebaixados para a segunda divisão do futebol nacional. Como indicado no título deste texto, serão analisadas as questões econômicas que influenciaram a queda de clubes grandes para a Série B do Campeonato Brasileiro. Para facilitar o estudo, serão vistos apenas casos de 2006 até 2019 porque existem registros dos balanços patrimoniais dos clubes, disponíveis em seus sites, de maneira digital e de fácil acesso.
          Corinthians em 2007, Palmeiras em 2012, Vasco em 2013 e 2015, Botafogo em 2014 e, mais recentemente, o Cruzeiro em 2019. A semelhança entre todos esses casos é que as finanças dos clubes já apontavam preocupações, mesmo com eventual sucesso dentro do campo. Cruzeiro foi bicampeão brasileiro e ganhou a Copa do Brasil em 2018, Corinthians havia acabado de ganhar o Brasileiro quando foi rebaixado, Vasco foi campeão da Copa do Brasil em 2011 e Palmeiras ganhou a Copa do Brasil no mesmo ano que foi destinado à Série B, em 2012. Durante o decorrer desse texto, serão mostrados indicadores financeiros durante os anos para analisar os motivos desses acontecimentos.
          Uma tendência muito forte em todos esses clubes foram os déficits na maioria dos anos analisados. Isso indica um erro gravíssimo na gestão esportiva brasileira, pois os clubes considerados grandes, com as maiores torcidas e maiores potenciais de receita, deveriam conseguir gerar superávit, que pode ser usado para abater dívidas, tornando o clube financeiramente saudável e competitivo. Como aconteceu com Flamengo e Palmeiras nos anos mais recentes.
Análise financeira dos clubes
          Abaixo será apresentado um gráfico, demonstrando o endividamento dos clubes que é calculado a partir da razão entre dívidas do clube e todos os seus bens. O eixo horizontal representa os anos que foram feitos tais dados, sendo o ano 1 o primeiro ano de dados disponível para cada clube (a temporada referente a cada um deles está na legenda).
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Figura 1 - Fonte: Portal de transparência dos respectivos clubes e Pluri Consultoria (Palmeiras)
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       É possível observar que todos possuem dívidas maiores que os bens que possuem, bem como apresentam uma tendência de crescimento. O Cruzeiro teve um endividamento crescente em todos os anos analisados e chegou a gravíssimos 220% de endividamento, ou seja, para quitar suas dívidas seria necessário vender mais de 2 vezes todo o ativo do clube, fazendo com que seu patrimônio líquido que outrora era positivo, chegasse a aproximadamente -R$500.000.000,00. O Palmeiras e Corinthians tiveram endividamentos crescentes, o Verdão com dívidas maiores que seus bens - com um patrimônio líquido de -100 milhões de reais - e o Timão tendo um endividamento ainda menor que 100%, mas com um aumento alarmante durante os anos de 2006 e 2007 - com seu patrimônio líquido ainda positivo em 40 milhões de reais, porém com tendência de queda.
O Vasco, por sua vez, manteve seu endividamento relativamente constante. Apesar do índice ser de 200% que, de fato, é um valor preocupante, o clube apresentou capacidade de manter a situação de endividamento controlada e sem ter tendência de crescimento como os outros clubes analisados, apresentando um patrimônio líquido de -360 milhões de reais.
         Entretanto, nenhum caso acima parece ser tão preocupante quanto a situação do Botafogo. O clube possuía um endividamento de mais de 500% no início do espaço amostral, porém conseguiu se organizar e fazer esse índice cair para “apenas” 195%, indicando um trabalho financeiro bem feito, o que seria razoável para colocar o time em um caminho para ter uma melhor saúde financeira. Todavia, uma repentina mudança de filosofia, saindo de uma ideia de gestão que gastava menos e responsável por diminuir os problemas financeiros e indo para uma ideia de gestão que gastava mais verba para tentar alcançar maior sucesso dentro de campo, resultou em um aumento do endividamento para além de 600%. Esse valor é ainda maior do que aquele no começo da série de dados e o endividamento continuou a crescer, chegando em 800%. Sendo assim, o clube apresentou a pior situação financeira dentre os analisados, possuindo um patrimônio líquido de aproximadamente 800 milhões de reais negativos.
             Em relação ao patrimônio líquido, todos os clubes possuem quedas sucessivas nos anos analisados. Isso se deve aos repetidos déficits nos clubes, fazendo com que as suas dívidas aumentem e, consequentemente, isso impacte seu patrimônio líquido. O valor extremamente negativo só demonstra como seus passivos estão crescendo e a situação dos clubes é delicada.
         Sobre Vasco, Botafogo e Cruzeiro, que são os clubes com maior endividamento, foi feita uma análise mais detalhada, observando a proporção da dívida líquida pela receita dos clubes. Esse índice é calculado da seguinte forma: a quantidade de dinheiro necessária para quitar as dívidas do clube dividido pela quantidade de dinheiro que o clube arrecada em um ano, que é sua receita. Este indicador representa quanto tempo levaria para que o time quitasse suas dívidas, caso pudesse gastar toda sua receita para este fim.
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Figura 2 - Fonte: Portal de transparência dos respectivos clubes e Pluri Consultoria (Palmeiras)
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​        Como é evidente, o Cruzeiro teve um crescimento constante nesse índice, fazendo com que sua dívida líquida dividida pela receita aumentasse 135% durante a série histórica analisada, chegando a quase 300%. Ou seja, o Cruzeiro precisaria de aproximadamente 3 temporadas, com sua receita atual, para quitar suas dívidas. Apesar da situação do time mineiro ser preocupante, os times cariocas estão em uma situação ainda mais delicada.
O Gigante da Colina começou com mais de 200% no índice e esse valor mais que dobrou para o último ano em análise (2014). Nesse caso, não apresentando o mesmo controle que teve em seu endividamento e, consequentemente, um crescimento elevado durante os quatro pontos analisados no gráfico.
O time da estrela solitária teve uma volatilidade maior, como visto também em seu endividamento, começando com mais de 500% e quase dobrando esse valor. Após isso, a mesma gestão que melhorou o endividamento do clube fez com que a dívida líquida sobre receita diminuísse consideravelmente. A mudança para a gestão mais agressiva financeiramente fez o índice voltar a crescer saindo de seu menor valor de 250% e subindo para 455%.
 
Análise de gastos com o elenco de Cruzeiro e Botafogo
          Como o Botafogo e Cruzeiro são os clubes com indicativos mais peculiares de gestões ineficientes e tiveram desempenhos financeiros que sugerem preocupação com possíveis falências, será feita uma análise mais profunda desses dois casos. Um dos vários motivos que podem ser apontados para resultados tão negativos fora dos campos é o alto investimento em elencos para tentar melhores resultados futebolísticos, sem pensar na viabilidade de tais investimentos e na sustentabilidade deles. Abaixo são apresentados os gráficos da razão entre o intangível e os ativos dos clubes citados, ou seja, o valor de seus respectivos plantéis dividido pelo total de seus bens.
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Figura 3 - Fonte: Portal de transparência dos respectivos clubes e Pluri Consultoria (Palmeiras)
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Figura 4 - Fonte: Portal de transparência dos respectivos clubes e Pluri Consultoria (Palmeiras)

           No caso do “Fogão” o gráfico se comporta de forma semelhante aos de endividamento e de dívida líquida/receita. Iniciando com uma verba crescente sendo alocada no elenco, até o corte nesses gastos de 2010 até 2012 que foram protagonizados pela filosofia que melhorou os indicadores anteriormente apresentados.  Na sequência, tem-se um aumento nos gastos com o plantel para a temporada de 2013 e, por conta dos resultados negativos, o gasto foi menor em 2014, consequentemente culminando na queda para a Série B do campeonato brasileiro.
O Cruzeiro veio desde 2011 com gastos ascendentes com seus jogadores até 2016, o que até gerou resultados positivos como o bicampeonato brasileiro e pela posterior conquista da Copa do Brasil. Porém, após dificuldade para arcar com os salários de seus jogadores no ano de 2019, o clube teve que diminuir seus gastos para esse ano em relação a 2018 e caiu de uma maneira vexatória. No caso do time azul de Belo Horizonte, o aumento dos gastos no elenco trouxe resultados positivos, mas sem nenhum planejamento e sustentabilidade, fez com que o clube entrasse na enorme crise financeira atual. Os gastos de ambos os clubes diminuem no último ano de análise porque esse foi o ano que os clubes caíram para a Série B e isso significa que os elencos que protagonizaram tais “feitos” eram, de modo geral, menos qualificados e, consequentemente, menos valiosos.
 
Fatores que podem distorcer a realidade financeira dos clubes
         Diversos clubes brasileiros têm balanços pouco confiáveis e as opiniões dos auditores independentes geralmente é feita com ressalvas. É comum observar republicações dos balanços de alguns anos por conta de erros, ou até mesmo fraudes, para aparentar que a gestão atual do clube faz bom trabalho com as finanças. Apesar disso, durante todo esse texto foram usados os dados oficiais dos times, encontrados em suas áreas de transparência de seus sites ou em auditorias independentes que trabalharam com os clubes.
          Ademais, a venda de jogadores também pode causar ilusão ao olharmos apenas para os números e não para o contexto. No caso de Corinthians e Cruzeiro, principalmente, isso é extremamente perceptível. Em 2007, o então jovem Willian foi negociado com o futebol ucraniano e, com a sua venda, houve uma entrada de 40 milhões de reais nos caixas do Timão. Assim, sua receita cresceu consideravelmente naquele ano e isso fez com que tanto seu endividamento quanto sua dívida líquida/receita fossem mitigadas.
Outro caso semelhante ocorreu no Cruzeiro com as vendas de Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Lucas Silva, onde tais negociações tiveram efeito igual ao da venda corintiana. O grande problema dessas vendas é que elas aumentam a receita consideravelmente, porém não são sustentáveis ou recorrentes. Essas vendas acontecem e não é possível ver quando essa entrada de dinheiro acontecerá novamente, não sendo uma renda cíclica que acontece anualmente. Ademais, é comum ver casos de jogadores brasileiros que fizeram sucesso internacional e não lembrarmos aonde esse jogador fez sua categoria de base. Isso ocorre porque, muitas vezes, atletas jovens são vendidos antes de fazerem sua estreia no profissional de seus clubes. Alguns exemplos são: Marcelo (lateral esquerdo do Real Madrid, formado no Fluminense), Philippe Coutinho (meio campista do Barcelona, formado no Vasco), Gabriel Martinelli (atacante do Arsenal, formado no Ituano) e até mesmo Willian (meio campista do Arsenal, formado no Corinthians) que foi anteriormente citado nesse texto.
Todos esses jogadores citados jogaram muito pouco, ou nem jogaram, profissionalmente pelos clubes que os formaram. Vendas precoces com a finalidade de quitar dívidas levam a vendas “a preço de banana”. Caso os clubes tivessem uma saúde financeira melhor, estes poderiam colher frutos esportivos dos atletas antes de vendê-los de forma tão fácil. Outro problema recorrente no futebol brasileiro é que clubes contabilizam no início do ano, em seu planejamento financeiro, X milhões de reais em vendas de jogadores a fim de “fecharem as contas”, porém, não é possível prever quando uma venda acontecerá e se essa, ou mais, negociações chegarão ao valor planejado anteriormente para que o clube feche o ano “no verde”.
       Logo, times não deveriam contar com a venda de atletas para finalizar o ano sem prejuízo. De qualquer forma, mesmo com essas vendas, ambos os clubes estudados fecharam no vermelho e tiveram déficits em seus resultados.
 
 
Conclusão
           Através da análise de dados apresentada é possível ver como cada um dos clubes demonstra, e a maioria ainda possui, dificuldades financeiras. O Corinthians, por apresentar um espaço amostral pequeno, não possibilitou a análise do real crescimento de sua dívida em comparação com as outras instituições apresentadas. Porém, ainda existem diversas dívidas, principalmente as relacionadas à construção de seu estádio, de modo que a gestão financeira não parece ter se aperfeiçoado. O rival do Corinthians, Palmeiras apresentou resultados negativos e que chegaram a ser preocupantes. Contudo, uma gestão mais profissional, com investimento de seus patrocinadores e do empresário Paulo Nobre, o clube é hoje um dos clubes com a melhor situação financeira do país.
          Os clubes cariocas analisados nesse texto apresentam situação mais delicada financeiramente, com o Vasco apresentando uma situação menos volátil e com piora constante nos índices, enquanto o Botafogo se mostrou mais volátil e teve melhoras em alguns pequenos pontos e pioras exponenciais em outros. Vasco teve investimentos ruins, porém foi campeão da Copa do Brasil em 2011 e após isso, foi rebaixado para a Série B. Botafogo, por outro lado, não conquistou nenhum título e foi rebaixado de forma semelhante ao seu rival.
          Talvez o caso mais famoso e o mais recente seja o caso do Cruzeiro. O clube é o que, dentre os casos analisados, teve mais sucesso dentro de campo, conquistando três títulos nacionais e caindo para a segunda divisão, a qual está jogando durante o ano de 2020. Tal queda levou a uma explosão de problemas financeiros, oriundos de anos de erros de gestão que foram ocultados pelo sucesso esportivo. Atualmente, o clube foi expulso do Profut, o programa que parcelas dívidas tributárias dos clubes e, assim, a União pode leiloar e confiscar qualquer bem do Cruzeiro para quitar suas dívidas com o governo. Além disso, sofreu uma punição da FIFA que o levou a começar com -6 pontos na disputa da “segundona”, sem contar as outras punições que transitam pela FIFA por falta de pagamento em algumas compras. Além disso, também existem processos trabalhistas por falta de pagamento de salários, como já foi citado anteriormente. Gestões imediatistas, que não pensaram na sustentabilidade dos investimentos que estavam sendo feitos, colocaram esse gigante brasileiro na pior fase de sua história.
Padrões como os apresentados acima, principalmente o de Botafogo e Cruzeiro, são pontos alarmantes para qualquer clube que faz tais investimentos esportivos sem planejamento futuro e análise da sustentabilidade de tais gastos. Caso sinais semelhantes sejam vistos no seu ou em outro time, tenha certeza de que o sinal de alerta deve ser ligado e caso não seja, rebaixamentos e humilhações provavelmente acontecerão como ocorreram com os clubes presentes nesse texto.
 
Links usados para análises:
https://vasco.com.br/transparencia/ https://www.cruzeiro.com.br/transparencia
https://www.corinthians.com.br/clube/transparencia
https://www.pluriconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/09/PLURI-Balancos-Palmeiras2013.pdf
http://www.botafogo.com.br/transparencia/balanco.php

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