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Textos, artigos e outros conteúdos esportivos desenvolvidos pela equipe de Pesquisa & Desenvolvimento do Insper Sports Business, e validados por membros do conselho da entidade. Os temas giram em torno de gestão esportiva e aspectos financeiros. Para isso, os membros passam por capacitações de professores ou profissionais da área.

FUTEBOL É RAÇA!

17/4/2019

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Por Rodrigo Zalcman

Em 1923, com uma campanha arrasadora, o Clube de Regatas Vasco da Gama conquistou seu primeiro campeonato carioca, título que não só entrou para a história do time, como também para a história do futebol brasileiro. Pela primeira vez, um time com jogadores negros sagrou-se campeão, dando indícios de que o preconceito racial no futebol poderia começar a mudar. No ano de 2014, em partida válida pela Copa do Brasil entre Grêmio e Santos, um grupo de torcedores gremistas foi flagrado por câmeras de televisão proferindo insultos racistas ao goleiro santista Aranha, caso que ganhou repercussão nacional. Quase cem anos depois da conquista inédita vascaína que parecia abrir novas portas à questão racial, pouco mudou: o racismo ainda continua muito presente no futebol brasileiro.

O futebol chegou ao Brasil no início do século 20, sendo a princípio um esporte praticado pela elite branca do país, com várias restrições a praticantes que não se enquadrassem nessas características. Alguns times, entretanto, passaram a fugir dessa convenção estabelecida, escalando jogadores negros e mulatos em seu plantel, sendo a Ponte Preta a pioneira. O primeiro grande craque brasileiro foi justamente um mulato, Artur Friendereich, filho de um alemão e de uma brasileira negra, que atuou por clubes como Paulistano e São Paulo. Autor do gol que daria o primeiro título à seleção brasileira, o Sulamericano de 1919, “El Tigre” (apelido que recebeu após a conquista) alisava o cabelo para parecer mais como uma pessoa branca, tentando amenizar os maus olhares que sofria por parte da população. A figura de Friendereich, além da conquista do Vasco em 1923, são exemplos de um movimento que provocou uma mudança de visão sobre diferentes raças e classes sociais no futebol, evidenciando a qualidade e importância delas para a evolução do esporte. Com a profissionalização do futebol, as barreiras físicas para a entrada de negros e mulatos foram extintas.

Ao longo do tempo, outros grandes nomes foram surgindo, colocando a questão do preconceito em xeque. Lêonidas da Silva, que jogou entre as décadas de 30 e 50, quebrou um paradigma ao ser o primeiro atleta brasileiro, um negro, a assinar um contrato de publicidade. Conquistando títulos por grandes clubes como Vasco, Botafogo, Flamengo e São Paulo, o “Diamante Negro” (apelido que rendeu o nome de um chocolate comercializado até os dias de hoje) é um dos atletas com a melhor média de gols na história da seleção: 37 gols em 37 jogos. Anos depois, quem apareceu foi uma personalidade que dispensa apresentações: Pelé, o rei do futebol. Encantando o mundo dentro de campo, o jogador foi importante por colocar a figura de um negro no topo. Por outro lado, mesmo tendo sofrido muito com o preconceito ao longo de sua carreira; chegando a ser comparado em uma revista, por exemplo, a um animal que assustaria uma criança loira na Suécia pela sua capacidade “surpreendente” de fala; Pelé nunca se engajou diretamente na luta antirracista, tentando sempre ignorar ou se esquivar de ofensas ou questionamentos, recebendo várias críticas quanto a isto.

O futebol, como esporte mais popular do país, acaba representando em muitos aspectos a sociedade, ao colocar em evidência seus valores e comportamentos. Apesar de unir as pessoas em torno de uma causa comum, o universo futebolístico reforça as diferenças e preconceitos presentes no “DNA cultural” do brasileiro, como o racismo estrutural; os hábitos, costumes e falas que promovem de maneira despercebida o preconceito racial, além do racismo institucional, representado pelas manifestações e ações de instituições públicas ou privadas que de maneira indireta promovem a segregação racial, algo exposto pelo fato de um negro raramente ocupar um cargo de técnico ou dirigente em algum grande clube. Ambos são negados ou ignorados por grande parte das pessoas, com menos de 5% da população nacional se considerando racista segundo pesquisa do IBGE.

​Dados divulgados pelo Observatório de Discriminação Racial do Futebol, organização que denuncia e combate o racismo e preconceito no futebol brasileiro, mostram que no ano de 2017 houve um aumento de 72% dos casos de racismo registrados nos veículos de comunicação em relação ao ano anterior, somando um total de 43 ocorrências. Com uma maior repercussão da questão racial, além da evolução das mídias e tecnologias, que facilitou a identificação e divulgação de ocorrências, o número de denúncias passou a aumentar, fazendo crescer esta contagem de casos registrados. A frequência de incidentes de racismo tende a diminuir em comparação a períodos anteriores, ao mesmo tempo que os números de denúncias tendem a aumentar. Vale ressaltar que esse número divulgado é apenas das ocorrências registradas em meios de comunicação, havendo ainda inúmeros casos que passaram despercebidos.
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O futebol funciona também como um veículo de desabafo do torcedor, que descarrega no seu time e nos jogadores toda a carga emocional de sua vida cotidiana, muitas vezes estressante e desgastante, alguns agindo de forma mais agressiva, se sentindo blindados pela multidão que os cerca. No ano de 2017, quase 70% dos casos registrados de racismo ocorreram dentro dos estádios, ambiente que faz o torcedor se sentir fortalecido e protegido em meio a tantas outras pessoas. O resto dos casos se localizam quase que totalmente na Internet, outro ambiente que fornece um certo anonimato e blindagem ao agressor, sendo um veículo com grande atratividade para o crescimento de ocorrências.

A divisão estadual dos casos de racismo também foi algo estudado pelo Observatório, que no seu período de pesquisas divulgadas (2014-2017), listou o Rio Grande do Sul (RS), São Paulo (SP) e Minas Gerais (MG) como os estados com mais ocorrências. O estado gaúcho é o que mais se destaca e difere dos demais, representando sozinho cerca de 30% dos casos em território nacional, algo que pode ser explicado pelo fato do estado ser um dos que possui a menor porcentagem de pretos e pardos em sua população (menos de 20%), aumentando o preconceito com este grupo minoritário.

Assim como a Assembleia Geral das Nações Unidas e a Constituição Brasileira, a FIFA define que qualquer ato de preconceito e discriminação contra alguma pessoa é um crime passível de punição. Isto, entretanto, parece não sair do papel no futebol brasileiro. De todos os casos de racismo julgados pelo STJD (Supremo Tribunal de Justiça Desportiva), em 56% deles houve alguma punição, enquanto os outros 44% passaram impunes, sendo absolvidos, em mais um exemplo do racismo institucional brasileiro.

Erradicar o racismo é uma utopia. Querer acabar com algo presente nas raízes do povo brasileiro desde a época da colonização portuguesa é irrealizável. Reduzir e combater a discriminação racial, por outro lado, é algo possível. O primeiro passo é a sociedade se reconhecer como racista e tornar seu combate em uma prioridade. Os veículos de comunicação possuem papel fundamental nisto, ao expor e promover a divulgação e debate do preconceito racial constantemente. O futebol, devido a sua popularidade, além de ser um meio de manifestação do racismo, é uma grande ferramenta para seu combate, já que torna acessível a conscientização da questão racial para pessoas que fora do contexto do esporte desprezariam o assunto. A criação de organizações como o Observatório de Discriminação Racial do Futebol também é algo muito importante. Tudo isso deve ser acompanhado por um sistema de leis e de punições mais rigorosos, que cumprem na prática com o que está escrito. Este talvez seja o início para um caminho árduo e longo, ainda distante, que pode fazer com que a democracia racial deixe de ser apenas um mito.
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