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Textos, artigos e outros conteúdos esportivos desenvolvidos pela equipe de Pesquisa & Desenvolvimento do Insper Sports Business, e validados por membros do conselho da entidade. Os temas giram em torno de gestão esportiva e aspectos financeiros. Para isso, os membros passam por capacitações de professores ou profissionais da área.

O coração dividido do torcedor brasileiro

29/6/2020

 
Por Rodrigo Zalcman
​Falar sobre as maiores torcidas do país é um dos inúmeros temas que causam controvérsias aos torcedores brasileiros. Para eles, a torcida de seu time sempre será maior que a dos rivais, utilizando como base para essa afirmação, única e exclusivamente, seus corações. Ao se basear, entretanto, em pesquisas, como a do Datafolha divulgada em 2019, é um fato que Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco, nessa ordem, possuem atualmente as maiores torcidas do país, concentrando nesses 5 times mais da metade (52%) dos torcedores brasileiros. A partir desses dados, surge outra polêmica: a dos “torcedores mistos”, aqueles que dividem sua torcida entre times diferentes, muitas vezes deslegitimados por essa escolha. O “DNA Torcedor 2017”, pesquisa divulgada pela Ibope Repucom, faz justamente um estudo desse tipo de torcedor pelo Brasil, cujas causas e consequências serão desmembradas ao longo deste texto. Começaremos com os fatos:  
  • 37% dos torcedores do país torcem por mais de um clube (aproximadamente 41 milhões de pessoas);
  • Dentro das duas maiores torcidas do país, 19% dos flamenguistas são considerados simpatizantes, ou seja, possuem o rubro negro carioca como 2ª opção de time. Do lado corintiano, 18% de sua torcida pode ser considerada como simpatizante do clube;
  • América-MG (93%), Londrina (90%) e Chapecoense (77%) são clubes que se destacam pelo alto percentual de simpatizantes dentre seus torcedores
  • Grêmio e Internacional, por outro lado, se destacam pela baixa porcentagem de simpatizantes dentre seus torcedores, ambos com apenas 14% de pessoas que tem esses times como 2ª opção;
  • 48% dos torcedores do Nordeste torcem por mais de um clube, sendo, proporcionalmente, a região do país com mais torcedores mistos. Em seguida vem o Norte e o Centro-Oeste (ambos com 37% de mistos), o Sul (34%) e, por fim, o Sudeste (33%).
Primeiramente, vamos para a análise dos extremos de simpatia pelos clubes. As altas porcentagens de simpatizantes do América-MG e do Londrina podem ser explicadas pelo fato de serem times tradicionais localizados em estados que possuem a hegemonia de outros clubes, como o Cruzeiro e Atlético, em Minas Gerais, e Coritiba e Athletico, no Paraná. Com isso, esses dois clubes acabam sendo a segunda opção das pessoas que acabam priorizando a sua torcida nessas equipes mais fortes de seus estados, ou até em grandes times de fora (com destaque ao Corinthians no estado do Paraná, que possui a segunda maior torcida do estado de acordo com a última pesquisa divulgada pela Lance/Ibope). Em relação a Chapecoense, o que possivelmente explica a alta porcentagem de simpatizantes da equipe é a grande comoção gerada pelo trágico acidente aéreo do clube em 2016, sendo possível observar isso a partir do número de seguidores nas principais mídias do time (Facebook, Twitter, Instagram e Youtube) antes e depois da tragédia. Alguns dias após o desastre, a Chapecoense passou de pouco mais de 500 mil para mais de 3 milhões de seguidores totais. Hoje, de acordo com ranking divulgado pela Ibope em Abril, o clube é o 10º time brasileiro com mais seguidores em suas mídias sociais, tendo um combinado de aproximadamente 5,8 milhões de pessoas, a frente de grandes clubes como Internacional, Fluminense e Botafogo.
Na outra ponta, temos Grêmio e Internacional. Dois dos maiores clubes do país, que juntos ostentam nada menos que 5 Libertadores, 2 Mundiais de Clubes, 5 Campeonatos Brasileiros de Série A e 6 Copas do Brasil. Essas conquistas explicam um pouco dos motivos que fazem com que as pessoas se satisfaçam apenas com a torcida para estes times, algo que é reforçado pelo fato de estarem localizados no estado mais fechado a times de fora do país, com 92% dos torcedores gaúchos resumidos ao Gre-Nal (dados Lance/Ibope). Essa dupla faz com que a região Sul seja a única do país que não possui seu ranking de maiores torcidas dominado por times do Sudeste, com os gremistas e colorados ocupando a primeira e segunda posição da região, respectivamente.
O que leva, então, à grande dispersão de torcida dos clubes do Sudeste (mais especificamente do Eixo RJ/SP) pelo resto do Brasil, além de uma consequente maior quantidade de torcedores mistos nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste? O argumento mais básico é a melhor qualidade dos times e maior quantidade de conquistas que os clubes do Eixo historicamente possuíram em relação ao restante do país. Como exemplo autoexplicativo disso, os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro somam juntos 48 títulos da Série A do Brasileirão, o que corresponde a aproximadamente 76% dos campeonatos já disputados. Com isso, a população de outros estados, além de apoiar times locais, acaba adotando também esses clubes do Sudeste, visando acompanhar as suas grandes conquistas.
Aprofundando um pouco mais a tese, é notável também o papel fundamental que a mídia teve nesse processo. Desde a década de 60, quando os sinais de rádio e TV passaram a cobrir todo o território nacional, a prioridade sempre foi a transmissão de jogos do Eixo em todo o país. Na época, as justificativas eram por conta de limitações econômicas e técnicas. Atualmente, mesmo com as novas tecnologias anulando essa explicação passada, as preferências persistem. Na Rede Globo, a maior emissora do país, fora das regiões Sul e Sudeste, o Estadual é transmitido apenas nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Bahia, Ceará e Pernambuco, sendo o Campeonato Carioca disponibilizado para os outros.
Nas cotas de TV dessas competições, esses privilégios também podem ser percebidos: 
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Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rodrigo-mattos/2020/01/22/cotas-de-tv-de-estaduais-corinthians-ganha-87-vezes-valor-do-athletico-pr.htm
OBS 1: Todos os valores são de contratos com a TV Globo, exceto Athletico-PR e Coritiba, que fecharam contrato com a DAZN.
OBS 2: Flamengo não entrou em acordo com a Globo e seus jogos não serão transmitidos pela TV.
 
            Em contrapartida, vale ressaltar que a divisão de cotas no Campeonato Brasileiro é feita de maneira muito mais igualitária. A Globo reparte 40% de sua cota total igualmente entre os clubes, com o restante sendo dividido conforme o número de jogos transmitidos e de acordo com a colocação do time na tabela.
            Retornando ao foco em torcidas, é possível encontrar hoje vários movimentos de times tentando lutar contra essa estrutura enraizada, com fortes críticas aos torcedores mistos, principalmente por clubes do Nordeste. Temos como exemplo o caso do Fortaleza (com 46% de sua torcida podendo ser considerada como “mista” de acordo com a pesquisa da Ibope) que na semana em que ia receber o Flamengo no Brasileirão do ano passado, divulgou uma campanha na qual retirava do cardápio de pizzas de seu restaurante o popular sabor “misto”, exaltando os “torcedores de verdade” com “corações que tenham um só dono”. Descendo um pouco para o estado de Alagoas, o CSA (com expressivos 75% de simpatizantes) também lançou ano passado uma interessante campanha, esta que só permitia que fossem utilizadas camisas de outros times no setor visitante de seu estádio, o Rei Pelé. Apesar de batalharem contra, os clubes de menor expressão muitas vezes acabam se aproveitando da hegemonia dos times de fora. No mesmo jogo em que lançou a campanha citada acima, o Fortaleza disponibilizou 14.200 ingressos para a torcida do Flamengo, o equivalente a 27% do total de 52 mil colocados a venda, bem superior aos 10% de praxe que são destinados para a torcida visitante. Esse jogo foi o segundo que reuniu mais público em jogos do time cearense na temporada, superando 49 mil pessoas, além de ser o que proporcionou uma maior renda, com mais de 1,7 milhão de reais arrecadados. Um detalhe curioso é que mesmo em menor número, os flamenguistas foram responsáveis por 67% da renda total da partida, algo que foi bastante influenciado pelo fato de que mais da metade dos torcedores do Fortaleza no estádio eram sócio-torcedores, cujos ingressos custavam apenas 1 real.
            Enfrentar o domínio de torcedores do Eixo pelo Brasil é obviamente uma tarefa árdua. Mudar a cultura já estabelecida durante várias décadas pode ser considerado uma utopia. Ao longo do tempo, entretanto, é possível fazer com que os times de fora do Eixo aumentem seu percentual de 1ª opção de time dentre seus torcedores, que passariam os times hegemônicos até então para suas segundas opções. Esse aumento passa por uma boa gestão, um marketing eficiente e bons resultados dentro de campo. Temos alguns bons exemplos de clubes que caminham firme nessa direção. Dentre esses casos, podemos citar o Bahia como um dos que obteve maior sucesso. Para seu triunfo, a fórmula que foi utilizada é bem conhecida, porém pouco aplicada pelos clubes brasileiros em geral. Sem entrar em muitos detalhes, o clube baiano passou a apenas empregar gestores pelas suas qualidades e não por orientações políticas. Houve também uma renegociação das dívidas de curto prazo para longo prazo, de maneira com que conseguisse cumpri-las, além de estabelecer um limite orçamentário realista, sem contratar grandes atletas com salários milionários. Em suma, gastando o que podia. O Marketing do clube também se destacou ao longo das últimas temporadas, aumentando a visibilidade de sua marca ao agir em cima de causas importantes para a sociedade, lançando várias belas campanhas em relação a temas como o combate ao machismo, a luta contra a homofobia, a defesa de praias no Nordeste que sofreram com o vazamento de óleo, entre outras. Vale citar, por fim, a criação em 2018 de uma marca de material esportivo própria (uma tendência dos clubes brasileiros), a “Esquadrão”, que já arrecadou 3 vezes mais que seu antecessor, com sua loja superando 8 milhões de reais de faturamento em 2019.
O resultado de todo esse processo aparece dentro de campo, com o clube desde 2017 acumulando campanhas razoáveis na Série A, lutando pelo meio de tabela, além de ter conquistado nesse período dois Estaduais e uma Copa do Nordeste. Financeiramente, os resultados também são positivos. Em 2019 os baianos atingiram sua Receita recorde, faturando aproximadamente 190 milhões de reais, terminando o ano com um superávit de quase 4 milhões de reais. Uma nova pesquisa do Ibope que possivelmente mostraria o aumento da porcentagem de torcedores cuja 1ª opção de time é o Bahia foi adiada em virtude da pandemia do coronavírus (última porcentagem divulgada foi de 56%). Este fato, todavia, pode ser comprovado através do aumento do número de sócio-torcedores do clube. De 14 mil sócios em janeiro de 2018, o Bahia hoje ultrapassa a barreira dos 44 mil, sendo o 7º time brasileiro com maior número de sócio-torcedores.
A mudança de patamar dos clubes, como a do Bahia, é apenas parte dos benefícios que a diminuição dos torcedores mistos em times fora do Eixo pode trazer. Esse fenômeno também traz benefícios para a economia e cultura de todas as partes do país, além de ser significante para o desenvolvimento do futebol nacional como um todo, ao aumentar sua competitividade, aprimorando seu nível técnico e atraindo, consequentemente, mais visibilidade e investimentos.     
 
 
 
 
 
 
 
Referências
 
http://www.iboperepucom.com/br/home/solucoes/esportes/dna-torcedor-2017/
https://globoesporte.globo.com/rj/futebol/noticia/pesquisa-aponta-que-414-milhoes-de-pessoas-torcem-por-mais-de-um-clube-no-brasil.ghtml
https://cassiozirpoli.com.br/balanco-do-bahia-em-2019-aponta-receita-recorde-no-nordeste-e-passivo-maior/
https://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2019/09/17/como-o-bahia-recuperou-contas-com-proprias-forcas-para-ser-forte-na-serie-a/
https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/6623667/socio-torcedor-quantos-tem-o-seu-time-veja-levantamento-exclusivo-com-numeros-e-compare-com-rivais
https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rodrigo-mattos/2020/01/22/cotas-de-tv-de-estaduais-corinthians-ganha-87-vezes-valor-do-athletico-pr.htm
https://veja.abril.com.br/esporte/opiniao-fortaleza-valoriza-futebol-regional-ao-criticar-torcedores-mistos/
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/o-torcedor-misto-nao-merece-ser-desrespeitado-por-sua-escolha/
https://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/segundo-pesquisa-datafolha-um-em-cada-cinco-brasileiros-e-torcedor-do-flamengo.ghtml
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2014/08/mg-tem-torcida-de-todo-o-pais-e-rs-e-o-estado-mais-fechado-times-de-fora.html
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