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A transcendência do esporte

15/5/2019

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Por Rodrigo Zalcman

Em seus primeiros jogos na Superliga Feminina de vôlei de 2017, a oposta Tiffany Abreu, do Bauru, já foi destaque absoluto. Além de ser a detentora da maior média de pontos no torneio (23 por partida), foi a primeira atleta transexual da história a atuar no campeonato. Este fato, entretanto, foi logo relacionado por muitas pessoas ao seu bom desempenho dentro das quadras, ao alegar que Tiffany possui uma vantagem desleal em relação às outras atletas. A comunidade do vôlei encontra-se dividida, com nomes conhecidos do esporte apresentando visões diferentes sobre a participação da atleta. É o caso do técnico multicampeão Bernardinho, que durante confronto contra o Bauru, com grande atuação de Tiffany, esbravejou: “Um homem, é foda!”, sendo defendido pela ex-jogadora da seleção Ana Paula Henkel, que já declarou publicamente que é contra a participação de atletas trans no esporte. Por outro lado, há exemplos de visões opostas como a de José Roberto Guimarães, técnico da seleção brasileira feminina, que afirmou que se Tiffany tiver nível de seleção, não veria problemas em convocá-la. Tudo isto foram ingredientes que reacenderam o debate e polêmica sobre transgêneros no esporte.

Por definição, transgênero é o indivíduo que se identifica com um sexo diferente daquele atribuído em seu nascimento. Este é o caso de Rodrigo, o primeiro nome de registro de Tiffany, profissional de vôlei masculino que aos 30 anos saiu do Brasil para iniciar um procedimento de transição de gênero, realizando duas cirurgias e um tratamento hormonal para redução de testosterona em seu corpo. Cinco anos depois, a atleta voltou ao Brasil para jogar vôlei, agora como mulher, algo permitido pela regulamentação do Comitê Olímpico Internacional (COI). O caminho para esta normatização formal, entretanto, foi custoso. Em meados do século XX, as mulheres eram submetidas aos chamados “nude parades”, nos quais ficavam nuas para atestar se tinham de fato órgãos sexuais femininos, e assim eram liberadas para competir. Anos depois, o exame físico foi substituído por um teste cromossômico, diferenciando os gêneros de acordo com seus respectivos cromossomos. No final dos anos 90, o gênero esportivo passou a ser determinado pelo nível de testosterona no corpo da pessoa, algo utilizado até os dias de hoje. A partir de 2004, o COI passou a permitir que atletas trans competissem nas Olimpíadas, desde que passassem por procedimentos cirúrgicos. No final de 2015, isto foi alterado, e agora as mulheres trans são permitidas para participar de competições sem necessidade de cirurgia, apenas com um controle dos níveis de testosterona sanguínea para abaixo de 10 nanomol por litro, por no mínimo um ano. Para transgêneros masculinos, por outro lado, não há entraves formais, já que há um consenso médico de que mulheres que optam pelo sexo masculino não possuem nenhuma vantagem física em relação aos homens cisgêneros (aqueles que se identificam com seu gênero de nascença).

A polêmica, reforçada pela cultura “heteronormativa” e de preconceito contra LGBTs de boa parte da sociedade, consolida-se quando o nível limite permitido de testosterona no sangue da atleta trans é quatro vezes maior do que o nível que uma mulher apresenta normalmente, isto somado à comprovação de que o desenvolvimento de um corpo masculino antes da mudança de gênero; com uma maior potência muscular, óssea e cardiorrespiratória; confere vantagens à atleta, sendo necessário, para verificar uma verdadeira mudança, um tratamento de supressão de testosterona por um período bem maior do que aquele determinado pelo COI.

Estudos científicos, entretanto, mostram também que as mulheres trans apresentam alguns prejuízos físicos com uma piora comprovada de desempenho após a transição de gênero na modalidade estudada. Depois de serem submetidas ao tratamento hormonal com supressão de testosterona e injeção de estrogênio, elas apresentam diminuição de massa, densidade óssea, força muscular e da capacidade cardiorrespiratória. Um dos principais estudos até então, feito pela médica e pesquisadora americana Joanna Harper, também atleta transgênero, avaliou a performance física destas atletas. Inicialmente, a análise de uma atleta de corridas de longa distância, Lauren, e de uma triatleta, Charissa, demonstrou uma queda da capacidade aeróbica de 17% e 15%, respectivamente, após 6 semanas do tratamento hormonal da primeira, e 9 meses do tratamento da segunda. Joanna, em 2003, antes de sua transição de gênero, realizou um percurso de 10 quilômetros em 37 minutos e 10 segundos. Dois anos mais tarde, após sua transição, realizou o mesmo percurso, agora em 42 minutos e 01 segundos, uma queda de 11,5%, algo esperado para uma transição de gênero com diferença de dois anos. A análise de mais de 200 corridas (de 5 e 42 quilômetros) de outras sete atletas também demonstraram uma queda de rendimento após a transição de gênero, o que leva a uma compatibilidade e competitividade com o desempenho de mulheres cisgêneros. Feito o estudo, a pesquisadora afirmou que mesmo com claros prejuízos em aspectos físicos depois da transição, as regras de participação de transgêneros devem variar de acordo com o esporte. No basquete, por exemplo, em que o tamanho da atleta é importante, os transgêneros poderiam levar vantagem. Por outro lado, em esportes como a ginástica olímpica, este maior tamanho poderia atrapalhar.

Ao longo da história, vários destes atletas ganharam destaque mundial. Dentre eles está Renée Richards, a primeira transexual a disputar um torneio profissional de tênis, que aos 40 anos, abandonou sua carreira de médico oftalmologista para realizar a cirurgia de mudança de gênero, passando a disputar em grandes torneios femininos, atingindo a 20º posição do ranking mundial. Outro caso marcante foi o de Fallon Fox, americana que foi a primeira transexual a participar de MMA. Após fazer a cirurgia de mudança de gênero, estreou em 2012, fazendo ao todo 6 lutas com apenas uma derrota, se revelando como transgênero apenas em seu terceiro duelo. Aposentou-se em 2014, sem rivais que aceitassem desafiá-la. No universo de homens transgêneros, um caso que gerou grande repercussão foi o de Andreas Krieger. Nascido como mulher na então Alemanha Oriental em 1965, foi submetido a uma dopagem involuntária de esteroides que fez com que passasse a ter características masculinas, ganhando uma vantagem competitiva em relação a outras mulheres, concretizada pela medalha de ouro no campeonato europeu de lançamento de peso em 1986. Anos depois, iniciou oficialmente seu processo de transição de gênero, escolha auxiliada pelo doping, sendo reconhecido como um homem. Com a queda do Muro de Berlim, foi um dos atletas alemães que entraram na justiça denunciando o uso do doping que recebera, se tornando hoje uma das referências alemãs no combate ao uso destas substâncias no esporte.

Os transexuais vêm ganhando cada vez mais espaço e visibilidade no esporte. Isto pode auxiliar na elaboração de mais estudos sobre o tema, para confirmar de vez (ou não) que não há problemas com a participação de atletas trans. Uma grande barreira, que transcende o aspecto científico, é o preconceito. O esporte, com toda sua visibilidade e universalidade, pode ser um importante meio para o combate deste preconceito, ao incluir, de forma natural e justa, os transgêneros. As Olimpíadas de 2020 em Tóquio estão chegando, e há boas chances da ocorrência da inédita participação de um atleta transgênero em jogos olímpicos. A levantadora de peso neozelandesa Laurel Hubbard, bem como a nossa conhecida Tiffany, são duas boas apostas.

O debate é polêmico e complexo, mas, afinal, e você? O que pensa sobre a participação de transgêneros no esporte?
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